Kopakawana

sexta-feira, 21 de setembro de 2012



– Senhora Kopakawana, senhora Kopakawana?

Ele bateu na porta, esbaforido. Era um homem alto, meio atrapalhado  e continha uma adoração sem igual no rosto. Continuou a bater, rápido, até a porta se abrir.

Uma bela senhora o fitou com irritação. Seus lábios estavam vermelhos, como se tivesse bebido sangue.

– O que é, lacaio? – ela falou.

O lacaio entrou aos tropeços na suíte do hotel. A adoração misturava-se com o temor.

– Ó minha deusa! Temos que ir embora daqui!

Kopakawana aproximou-se da janela, distraída, apreciando a vista do último andar. O dia estava abafado e ela usava um leve vestido branco, contrastando com seus irados olhos negros. Depois de alguns momentos, pareceu lembrar-se do servo, e replicou, desdenhosa:

– Que tolice! Por que eu iria sair deste paraíso? Agora que consegui restaurar meu poder, não o deixarei!

Ela torceu os lábios. Viera ao desconhecido Brasil para tentar estender sua supremacia, abalada após séculos de esquecimento. Os humanos eram facilmente corruptíveis, mas, com todas as novas religiões que surgiram, o culto à deusa Kopakawana enfraqueceu, até desaparecer. Por isso, agora Kopakawana empreendia viagens a lugares desconhecidos do mundo, para reestabelecer seu culto. Ouvira falar do Brasil e que no Rio de Janeiro supostamente havia um local em homenagem ao seu nome, e ela não perdera tempo em alcançá-lo.

O lacaio preocupou-se com a intrepidez da deusa:

– Senhora! O deus deles não a quer aqui! Não sente isto?

– Besteira! Ele não pode fazer nada. Com todas essas traições e desconfianças humanas, as pessoas precisam ainda mais de mim, a deusa que protege os casamentos e dá fertilidade! Em pouco tempo, abandonarão este outro deus.

Ela sorriu ao proferir estas palavras. Sim... Com sua influência, os humanos perderiam a fé no deus cristão. A corrupção já existia neles, bastava somente despertá-la. E isto Kopakawana fazia com perfeição.

O homem suspirou. Demovê-la do seu intento era praticamente impossível. Mesmo assim, ele temia a fúria do deus cristão. Já escutara do que este era capaz.

Vendo a preocupação do lacaio, Kopakawana riu-se:

– Relaxe! Aproveite as férias! Deixe tudo por minha conta. Logo que terminarmos por aqui, voltaremos para a Bolívia. Agora, acho que vou lá fora, curtir o litoral...

– Ãh, senhora – o lacaio começou, timidamente, apontando para a janela –. Está chovendo.

Kopakawana olhou com raiva as manchas cinzentas que tomaram o lugar da luz. Em seguida, gritou para as nuvens:

– Velho sacana!




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