Olho para
as centenas de livros no meu gabinete e apercebo-me que não toquei na maior
parte deles depois de os ter lido ou dado uma vista de olhos pela primeira vez.
Mas nem sequer considero a hipótese de me desfazer deles – então, e se eu
quiser abrir este ou aquele um dia destes? Gastei o meu último dinheiro tanto a
adquirir novos livros como em prostitutas. Comprar livros novos é um prazer
muito diferente do prazer de ler: examinar, cheirar, folhear um livro novo é a
própria felicidade.
Os livros dão-me confiança pela sua disponibilidade, de que posso sempre
aproveitar-me se quiser. O mesmo acontece com as mulheres – preciso de muitas
delas e têm de se abrir à minha fente como os livros. Na verdade, para mim, os
livros e as mulheres são semelhantes de muitas formas. Abrir as páginas de um
livro é o mesmo que afastar as pernas de uma mulher –o conhecimento revela-se à
nossa vista.
Todos os livros têm um odor próprio: quando abrimos um livro e cheiramos,
cheiramos a tinta, e é diferente em cada livro. Rasgar as páginas de um livro é
um prazer inenarrável. Mesmo um livro estúpido me dá prazer quando o abro pela primeira
vez. Quanto mais esperto for, mais me atrai, e a beleza da capa não é
importante para mim. Isto não é necessariamente verdade para as mulheres.
Tal como uma mulher se pode vir com qualquer homem habilidoso, assim um livro
se abre a qualquer um que lhe pegue. Dará o prazer da sua sabedoria a quem for
capaz de o compreender. Por isso sou cioso dos meus livros e não gosto de os
dar a ninguém para ler. A minha biblioteca é o meu harém.
Achei muito, muito bom! Parabéns!
ResponderExcluirBeijos.