O que é a solidão?

quarta-feira, 31 de outubro de 2012


Às vezes sinto-me sozinha
Mesmo com várias pessoas ao meu redor
Sinto-me estranha
Fechada num mundo que eu própria criei

Os amores platônicos de Carolina Santa Rosa

segunda-feira, 29 de outubro de 2012



    Carolina Santa Rosa apaixonou-se pela primeira vez aos sete anos, numa quente tarde de sábado. Era seu aniversário. De presente, recebera um coelhinho branco, macio. E assim, nesse simples gesto, iniciou-se uma série de infortúnios na existência da menina.
    Carolina encantou-se pelo coelho. Deixou as bonecas, os brinquedos. Só tinha olhos para ele. Alimentava-o com carinho, limpava a gaiola diariamente. Doava-se para o animal de modo pleno. Apaixonado. Entretanto, esses bichinhos delicados não duram muito. Morreu de alguma misteriosa doença, excesso de zelo, talvez.
    Ao contrário do que os familiares esperavam, Carolina recuperou-se rápido da sua dor. Mas ainda demorou um pouco para entregar-se a sentimentos intensos novamente. Sua segunda paixão aconteceu aos dez anos, por um garoto mais velho. Suspirava pelos cantos, olhava-o à distância. Nunca trocou uma palavra com ele, porém, os vários diálogos que criava mentalmente alimentavam seu amor. Esse amor, como era de ser, mostrou-se ilusório. Quando o garoto mudou-se de cidade, ela o esqueceu.
    A partir daí, suas paixões debandaram-se. Aos treze, apaixonou-se duas vezes: por Sílvio, um menino da sua turma, e em seguida por Lázaro, um tio do interior. Em nenhum dos casos houve reciprocidade.
    Ela, então, sofreu uma depressão profunda. Sentia-se inferior aos outros. Por que ninguém lhe amava? Seria tão feia assim? Não, não é, os pais diziam-lhe, levando-a a psicólogos, terapeutas. Essa fase só passou aos quinze anos, quando apaixonou-se novamente e deu seu primeiro beijo. O rapaz, contudo, logo a trocou por outra. A depressão voltou com força total.
    Na faculdade, pensou que enfim tinha encontrado o amor de sua vida. Chegou a noivar. Eduardo era um ex-estudante de filosofia que trancara a faculdade para tornar-se guarda de trânsito. Bom moço, todos diziam. O namoro durou três anos; o noivado, dois. Um mês antes do casamento, ele enforcou-se, no quarto. O motivo do suicídio, nunca se soube. Jogo do bicho, todos diziam.
    Carolina entrou em luto fechado. Despediu-se do emprego; ficava somente em casa, fumando ou chorando. Os amigos, de início, tentaram ajudá-la. Desistiram com o passar do tempo. Ela só acordou da letargia quando um dia olhou-se no espelho. Parecia tão velha, a despeito dos seus vinte e seis anos. Resolveu reagir e procurou algum trabalho.
    Não foi uma busca difícil. Era moça inteligente. Empregou-se na firma dos irmãos Truchetti, como administradora. Ao conhecer o novo chefe, apaixonou-se. Mesmo ele sendo casado, começaram um caso que estendeu-se por anos. Faziam amor no escritório e encontravam-se furtivamente nas sextas. Mas não eram suficientemente discretos. A esposa dele descobriu manchas, arranhões, contas dispendiosas... O matou numa agradável manhã de inverno.
    Estranhamente, Carolina não ficou muito triste por ele. Aos trinta e um anos, não mais se impressionava com as tramas do seu destino. Recomeçou a fumar, por nervosismo. Agora andava sempre nervosa.
    Um novo homem surgiu na vida dela. Dessa vez, sem amor. Somente sexo. Um jovem bonito, de dezessete anos. Gosto de mulheres mais velhas, dizia, beijando-lhe a carne. Possuía fetiches estranhos, envolvendo animais e até a avó. Breve, o abandonou.
    Muitos outros amores apareceram. Efêmeros, cada vez mais efêmeros. Quando fez quarenta e dois anos, foi promovida na firma. Porém isso não lhe trouxe nenhuma satisfação. Vivia mecanicamente, amava mecanicamente. Foi assim que viveu até seu atual namorado encontrá-la na cama, morta, com uma garafa de uísque ao lado. Câncer não tratado no pulmão. Causado, obviamente, por sua única paixão correspondida: o cigarro.

Diálogos Inconsequentes

domingo, 21 de outubro de 2012



O garoto sofria de uma doença rara, a Síndrome de Comer Tudo. Ele comia carnes, metais, madeiras, papéis, ar… A única coisa que não suportava eram as palavras. Dessas, o menino ficava longe (…)


                                                                                    Diálogos Inconsequentes, pág. 2



Se dependesse dele, nunca pisaria numa biblioteca. Porém sua mãe bateu o pé, obrigou. É bom pra tua educação, o frei Lourenço indicou. Frei Lourenço! Ele preferia ir à casa do Zezé, assistir as novas fitas de bang bang, ou então comer manga com sal. Mas mãe é mãe, tem que obedecer. Ou ficaria de castigo, sem lanche, e isso Quim não suportaria.

Pedalava sua velha bicicleta pelas ruas esburacadas. A única biblioteca da cidade ficava a um bom palmo de distância. Pedalava um pouco e parava, cansado. Em dois minutos, recomeçava a andar. Nesse sistema, alcançou o seu destino uma hora além do planejado. Suado, Quim entrou no prédio que, à primeira vista, parecia abandonado. Tudo muito calmo, sem ninguém; as estantes entulhadas de livros cobriam as paredes e mesas espalhavam-se por todo cômodo. Ele sentou-se, nada interessado pelos livros, esperando que alguém o atendesse.

– Olá – disse uma voz ao seu lado.

O garoto levou um susto. A pessoa chegara sem nenhum barulho.

Uma menina o olhava, curiosa. Era magrinha e usava óculos de aro grosso, que de quando em vez escorregava no nariz. Ele sentiu-se enorme ao seu lado e para acabar com essa impressão, resolveu encurtar a visita. Pegou da calça o papel onde havia anotado os livros que frei Lourenço indicara e perguntou se ela podia ajudá-lo.

– Infelizmente não. –  a menina falou, lendo o papel. – Esses livros de história global e biologia animal estão lá em cima, só um adulto alcança.

– E cadê seu pai?

– Meu pai?

– Sim, o responsável daqui.

Ela riu:

– O bibliotecário não é meu pai.

– Então como você sabe onde fica esses livros? – o garoto perguntou.

– Eu moro aqui.

Quim não entendeu a resposta. Ela devia estar brincando.

– Você sabe quando ele volta?

A menina deu de ombros.

– Ih, é capaz que demore. Se tivesse vindo há meia hora, pegava ele aqui ainda.

Ele pensou no tempo que estava perdendo. Certamente Zezé assistia agora às fitas; além disso, sua barriga roncava. Mas se não voltasse para casa com os livros, levaria uma coça. Resolveu esperar mais um pouco.

– Qual o seu nome? – Quim indagou, quando a garota aquietou-se num canto da biblioteca, mexendo nos livros.

– Iná, e o seu?

– Quim.

– Quim. – ela repetiu, colocando uma pilha de livros frente a ele. – Já que ficará, por que não lê alguns livros para matar o tempo? Tem do Lobato, do Carroll. Certeza que vai gostar.

Quim leu os títulos das obras. Caçadas de Pedrinho. Alice no país das Maravilhas. O chamado da selva. Só os nomes já lhe davam sono.

– Não, agradecido.

– Tudo bem. – ela falou, folheando o Caçadas. Em seguida, tirou um lápis e uma caderneta dos bolsos e começou a escrever.

O lápis deslizou pelo papel durante muitos minutos. Impaciente e entediado, ele perguntou o que ela fazia.

– Estou escrevendo um romance. – disse simplesmente.

Um romance? Ao que parecia, ela não completara nem doze anos. Que capacidade tinha para isso?

– Um romance, é? Sobre o que? – Quim continuou a falar, só para o assunto não morrer.

– É sobre um menino que tem SCT, Síndrome de Comer Tudo. Tudo mesmo. Não poupa tijolos, mesas, come até ar e gente. O nome que dei ao livro é Diálogos Inconsequentes.

– Que história sem pé nem cabeça. – ele observou – Por que esse título?

Iná ignorou a crítica. Conhecia o tipo que não lia.

– Quando eu lançar o livro, saberá por que.

Quim riu-se por dentro. Lançar um livro naquela idade, vê se pode. Mesmo assim, por pura falta do que fazer, pediu que ela dissesse o que ocorria ao menino no fim.

– Não sei ainda – Iná começou – Não estou nem na metade. Mas o que pode salvar o menino e as pessoas são as palavras. Ele é alérgico a elas. Verei o que faço.

O garoto olhou o grande relógio na parede. Já passavam das quatro da tarde, teria que vir outro dia. O tempo voara. Esquecera-se até do bang bang e das mangas.

Quim levantou-se devagar da cadeira, como se não quisesse ir. Protelando, expôs outra dúvida:

– Há quanto tempo está escrevendo esse romance?

Iná corou, gaguejou.

– Bem… Desde meia hora atrás. Me veio uma inspiração repentina.

O menino demorou um pouco para entender e, ao compreender, sua face ardeu de raiva. Antes que ela conseguisse dizer algo, Quim montou sua bicicleta e se foi.

Apesar dos queixumes da mãe, ele nunca mais voltou à biblioteca.

 (Elaine Rocha, 18/10/12)


Minha paz


 
Hoje eu encontrei a paz
Ela não era branca, nem negra
Era verde
A cor dos seus olhos


Os pássaros não enxergam no escuro (2° versão)

quarta-feira, 17 de outubro de 2012


 Esta é a versão revisada do texto, que postei no Recanto das Letras; mudei algumas coisas, porém, no mais, o texto continua o mesmo.



–  Boa noite. –  mamãe sussurrou, beijando meu rosto.
–  Mãe! –  chamei, segurando suas mãos. Não queria que se fosse. –  E se eles entrarem aqui?
Ela sorriu, soltando-se delicadamente.
–  Lembre-se do que seu pai te ensinou: grande parte dos pássaros não enxergam no escuro...



A lembrança dissolve-se assim que abro meus olhos. Um barulho quase imperceptível, como um ruflar de asas, me acordou. Asas... Aves. A associação é imediata e um tremor percorre meu corpo, enquanto tiro os pés da cama e sigo o som.

No chão frio, recordo-me da primeira vez que senti medo dos pássaros. Eu tinha oito anos e costumava sair para caçar com meu pai; ele carregava uma espingarda de chumbo velha, herança do vovô. Claro que raramente capturávamos algum animal, contudo, estes foram os melhores momentos da minha vida.

Um dia, papai resolveu procurar aves. Sabia de alguns ninhos perto de casa. Em pouco tempo, alcançamos uma parte densa do cerrado, onde escutava-se vários trinados de pássaros. Papai observou as árvores, à procura de sua presa; encontrou-a num bem-te-vi que cantava solitário no galho do pequizeiro. Ele preparou a espingarda e, quando atirou, torci intimamente que errasse, como nas outras vezes. Mas foi em vão.O bem-te-vi parou no meio da canção e caiu.

Meu pai olhou-me feliz, correndo para buscá-lo. Também o segui e, até hoje, não sei direito o que aconteceu em seguida: de repente, todos os pássaros alvoroçaram-se, formando um círculo acima de nós. Foi tão surpreendente que ficamos sem ação, vendo os pássaros aproximarem-se. Sem aviso, eles dirigiram-se ao meu pai, atacando seus olhos com violência. Não pude fazer nada, as aves formavam uma barricada impenetrável em volta dele. Estranhamente, os pássaros só bicavam os olhos, e não pararam até deixá-los em sangue.

Papai sobreviveu, embora tenha perdido o ânimo para tudo a partir daí. Morreu anos depois, mais de tristeza que doença nos rins. Eu, além de triste, tomei um trauma por todos os tipos de pássaros, não aguentava nem vê-los em imagens. Mamãe entendeu e sempre vinha me pôr para dormir, certificando-se que as janelas estavam fechadas.

Naquela época eu não sabia, mas o meu medo de aves seria uma sombra eterna em minha existência. Atrapalhou minhas relações com as pessoas de um modo irreversível: ninguém me compreendia, então os descartei e me isolei. Comprei essa casa, longe de tudo, principalmente dos pássaros. Bem, pelo menos era longe dos pássaros.

O barulho, antes fraco, tornou-se alto. Eu reconheço um bater de asas em qualquer lugar. Como esta ave entrou aqui, aí é que são elas. Mesmo aterrorizado, vou à sala, de onde vinha o ruflar. Na minha mente, as palavras de minha mãe formam uma ladainha: Pássaros não enxergam no escuro, pássaros não enxergam no escuro...
Ele mexia-se pelas paredes, voando de um lado para o outro. Se eu ligasse a luz, o pássaro me veria, entretanto, se eu não ligasse, teria que esperar até a manhã para espantá-lo. E esperar seria uma tortura.

Às apalpadelas encontro o interruptor e o aperto. A luz preenche a sala e, pálido, a desligo rapidamente. A meia visão que tive do pássaro deixou-me horrorizado. Era um bem-te-vi, porém, não um bem-te-vi normal. Seu tamanho era enorme... maior que uma galinha. Nunca vi algo assim.

Encosto-me na parede, pensando no que fazer. Não posso enfrentá-lo. Ele faz lembrar muito do meu pai; olhá-lo é como reviver tudo novamente. Por isso mesmo você deve matá-lo, uma voz sopra nos meus ouvidos. Eu nunca tinha escutado-a antes e fiquei surpreso; desde que esse temor apoderou-se de mim, nunca havia pensado em detê-lo, sempre fui um fraco. Mas, e se eu conseguisse? E se eu me livrasse do medo? Uma força quase sobrenatural me sustenta e eu saio da sala, à procura da pequena pistola que guardava em meu quarto. A ave, como se soubesse o meu intento, para de voar. Corro para a pequena cômoda ao lado da cama, pegando a arma e verificando as balas. Há três. Creio que serão suficientes.

O medo mistura-se com a coragem recém adquirida. O bem-te-vi volta a ruflar com força, me desafiando: Você não vai acertar, meu chapa. Na escuridão, não é possível vê-lo, portanto preparo a mira e ligo o interruptor. Nesse mesmo minuto, o pássaro voa com mais velocidade, em direção a mim. Antes que me atinja, aponto para o seu peito, mas acerto sua asa esquerda. Mesmo lento, ele continua me rondando e tenta outro ataque. Não erre dessa vez, meu subconsciente pede, chateado com meu erro anterior. E, milagrosamente, não erro. O peito amarelado do bem-te-vi suja-se de vermelho e ele fita-me, culpando minha atitude. Cai. O bico negro abre-se  e uma última nota quase sai dele, porém dou o tiro que o cala para sempre.




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O melhor para nós dois

terça-feira, 16 de outubro de 2012



Eu esperei tanto tempo para te encontrar
E quando nossos caminhos se intercalaram
Deixei-o ir
Fazendo o melhor para você(embora te magoando)
Fazendo o melhor para mim(embora te desejando)

Os pássaros não enxergam no escuro

quinta-feira, 11 de outubro de 2012



–  Boa noite. –  mamãe sussurrou, beijando meu rosto.
–  Mãe! –  chamei, segurando suas mãos. Não queria que se fosse. –  E se eles entrarem aqui?
Ela sorriu, soltando-se delicadamente.
–  Lembre-se do que seu pai te ensinou: grande parte dos pássaros não enxergam no escuro...

A lembrança dissolve-se assim que abro meus olhos. Um barulho quase imperceptível, como um ruflar de asas, havia me acordado. Asas... Aves. A associação é imediata e um tremor percorre meu corpo, enquanto tiro os pés da cama e sigo o som.
No chão frio, recordo-me da primeira vez que senti medo dos pássaros. Eu tinha 8 anos e costumava sair para caçar com meu pai; ele carregava uma espingarda de chumbo velha, herança do vovô. Claro que raramente capturávamos algum animal, contudo, estes foram os melhores momentos da minha vida.

Um dia, papai resolveu procurar aves. Sabia de alguns ninhos perto de casa. Em pouco tempo, alcançamos uma parte densa do cerrado, onde escutava-se vários trinados de pássaros. Papai pegou a espingarda e mirou num bem-te-vi que cantava solitário no galho do pequizeiro. Quando ele disparou, torci intimamente que o tiro não o acertasse. Mas foi em vão. O bem-te-vi parou no meio da canção e caiu.

Meu pai olhou-me feliz, correndo para buscá-lo. Também o segui e, até hoje, não sei direito o que aconteceu em seguida. O pássaro, ao que parecia, não estava morto. Meu pai chegou bem perto e o pôs nas mãos, triunfante, mas de repente a ave voou da sua palma e o atacou nos olhos. Foi tão rápido que ele não teve ação e o pássaro fugiu, cantando seus versos eternos.

Papai ficou cego, morrendo anos depois, mais de tristeza que doença nos rins. Eu, além de triste, tomei um trauma por todos os tipos de pássaros, não aguentava nem vê-los em imagens. Mamãe entendeu e sempre vinha me pôr para dormir, certificando-se que as janelas estavam fechadas.

Naquela época eu não sabia, mas o meu medo de aves seria uma sombra eterna em minha existência. Atrapalhou minhas relações com as pessoas de um modo irreversível: ninguém me compreendia, então os descartei e me isolei. Comprei essa casa, longe de tudo, principalmente dos pássaros. Bem, pelo menos era longe dos pássaros.

O barulho, antes fraco, tornou-se alto. Eu reconheço um bater de asas em qualquer lugar. Como esta ave entrou aqui, aí é que são elas. Mesmo morrendo de medo, vou à sala, de onde vinha o ruflar. Na minha mente, as palavras de minha mãe formam uma ladainha: Pássaros não enxergam no escuro, pássaros não enxergam no escuro...

Ele mexia-se pelas paredes, voando de um lado para o outro. Se eu ligasse a luz, o pássaro me veria, entretanto, se eu não ligasse, teria que esperar até a manhã para espantá-lo. E esperar seria uma tortura.

À apalpadelas encontro o interruptor e o aperto. A luz preenche a sala e, pálido, a desligo rapidamente. A meia visão que tive do pássaro deixou-me horrorizado. Era um bem-te-vi, porém, não um bem-te-vi normal. Seu tamanho era enorme... maior que uma galinha. Nunca vi algo assim.

Encosto-me na parede, pensando no que fazer. Não posso enfrentá-lo. Ele faz lembrar muito do meu pai; olhá-lo é como reviver tudo novamente. Por isso mesmo você deve matá-lo, uma voz sopra nos meus ouvidos. Eu nunca tinha escutado-a antes e fiquei surpreso; desde que esse temor apoderou-se de mim, nunca havia pensado em detê-lo, sempre fui um fraco. Mas, e se eu conseguisse? E se eu me livrasse do medo? Uma força quase sobrenatural me sustenta e eu saio da sala, à procura da pequena pistola que guardava em meu quarto. A ave, como se soubesse o meu intento, para de voar. Corro para a pequena cômoda ao lado da cama, pegando a arma e verificando as balas. Há três. Creio que serão suficientes.

O medo mistura-se com a coragem recém-adquirida. O bem-te-vi volta a ruflar com força, me desafiando: Você não vai acertar, meu chapa. Na escuridão, não é possível vê-lo, portanto preparo a mira e ligo o interruptor. Nesse mesmo minuto, o pássaro voa com mais velocidade, em direção à mim. Antes que me atinja, aponto para o seu peito, mas acerto sua asa esquerda. Mesmo lento, ele continua me rondando e tenta outro ataque. Não erre dessa vez, meu subconsciente pede, chateado com meu erro anterior. E, milagrosamente, não erro. O peito amarelado do bem-te-vi suja-se de vermelho e ele fita-me, culpando minha atitude. Cai. O bico negro abre-se  e uma última nota quase sai dele, porém dou o tiro que o cala para sempre.





As garras da alma

sábado, 6 de outubro de 2012




Presa entre as garras
Da minha própria alma
Querendo
(Temendo)
Me encontrar

A busca de Julieta

terça-feira, 2 de outubro de 2012





Quando ela acordou
O corpo todo tremeu
Era a bela Julieta
Em busca do seu Romeu
O túmulo apalpou
Na pálida escuridão
Os seus olhos ingênuos
Brilhavam de paixão
Levantou-se apática
Procurando o ser amado
Ao encontrá-lo caído
Postou-se ao seu lado
Sentiu que a vida nele
Não mais pulsava
Então deitou-se com ele
Pegando uma lâmina afiada
Beijou-lhe a face serena
Guardando-o com afeição
E feliz por finalmente achá-lo
Feriu o próprio coração






Design e código feitos por Julie Duarte. A cópia total ou parcial são proibidas, assim como retirar os créditos.
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