Ao Vento

quarta-feira, 29 de maio de 2013


O cavaleiro inexistente

terça-feira, 28 de maio de 2013


Trechos selecionados do livro O cavaleiro Inexistente, de Italo Calvino.


Talvez não se possa chamá-lo de doido: é só alguém que existe mas não tem consciência disso.

(pág. 26)

Combater ao lado de um companheiro é muito mais bonito do que lutar sozinho: ganha-se em coragem e conforto, e o sentimento de ter um inimigo e o de ter um amigo se fundem num mesmo calor.

(pág. 39)

Aquilo que minhas orelhas ouviam meus olhos entreabertos transformavam em visões e meus lábios silenciosos em palavras e palavras e a pena se lançava pela folha branca, correndo atrás delas.

(pág. 44)

A arte de escrever histórias consiste em saber extrair daquele nada que se estendeu da vida de todo resto; mas, concluída a página, retoma-se a vida, e nos damos conta de que aquilo que sabíamos é realmente nada.

(pág. 53)

A guerra vai durar até o final dos séculos e ninguém vencerá ou perderá, ficaremos imóveis diante dos outros para sempre. E sem uns os outros não seriam nada e hoje tanto nós quanto eles já esquecemos por que combatemos... Ouve estas rãs? Tudo aquilo que fazemos tem tanto sentido e tanta ordem quanto seu coaxar, aquele saltar da água para a margem e da margem para a água...

(pág. 59)

Começa-se a escrever com gana, porém há um momento em que a pena não risca nada além de tinta poeirenta, e não escorre nem uma gota de vida, e a vida está fora, além da janela, fora de você, e lhe parece que nunca mais poderá refugiar-se na página que escreve, abrir um outro mundo, dar um salto.

(pág. 61)

Num certo ponto a paixão por ela é também paixão por si próprio, é apaixonar-se por aquilo que poderiam ser os dois juntos e não são.

(pág. 72)

Toda a natureza é amor...

(pág. 85)

A trilha sonora da nossa vida

sexta-feira, 24 de maio de 2013


Todas as suas palavras propagam no ar. Lindas, mas malditas, Mary. No rádio o Guns Canta: Don't cry, tonight... Contudo, não consigo parar as lágrimas. 

Cantávamos no ritmo cáustico da nossa aspiração, amor. Astros do rock caídos, chamas apagadas da fama. Sua voz alcançava os vivos, os mortos, os próprios anjos. Assim como alcançava a minha alma cansada.

I'm still loving you, (I'm still loving you baby).

 Os nossos discos continuam tocando, do Scorpions ao Bon Jovi - agora são vazios como a sua partida. Não há motivos para ouvi-los, não com um só corpo acompanhando a batida. Não há motivos para sair da cama, orando todo dia para acordar com as suas mãos nas minhas. Não há motivos para sorrir, Mary. Sua música favorita toca, tão, tão dolorosa:

 I'd still miss you, baby
And I don't wanna miss a thing. 

O mundo não suportou a carga dos nossos sonhos. Frágil como nós dois, mas pronto para arruinar a força íntima. Ilusão sob ilusão, sua voz já não alcançava a multidão, ficou rouca, fraca... Morta. Mary, a trilha sonora da nossa vida toca por toda a casa, a cada minuto. A combinação fracassada do amor aliado às drogas.

Isso dói tanto quanto um vício. Mas não tanto quanto os sussurros ditos por sua boca. As suas últimas palavras paradas no infinito.

Uma declaração de amor para a pessoa mais importante do mundo

domingo, 12 de maio de 2013



Ela está ao seu lado desde o primeiro segundo da sua existência. Ela te alimentou, te ajudou a dar os primeiros passos, foi sua mais adorada namorada. Ela sorriu com suas pequenas vitórias, chorou nas suas quedas e o levantou sempre que você não via nenhuma solução. Ela brigou com você, mas nunca pelo seu mal, pois ela sempre quis que fosse melhor. Ela sempre perdoou os seus erros e nunca te abandonou mesmo quando magoada. Ela é a mulher mais forte que conhece e você se assusta quando a vê chorar. Ela é "a flor de todos os tempos", é a eternidade, é a personificação de todas as qualidades e defeitos existentes. Ela te ama com pureza e nunca pede nada em troca e morreria por você sem hesitar. E por isso todos dos dias são delas e ela merece todo o amor que você puder dar.

Feliz dia das mães, sempre.

Pleno e Vazio

quarta-feira, 8 de maio de 2013



Os rostos sem expressão adquirem um sorriso de escárnio
Nas luzes parecem zombar de mim, mas nas sombras refletem o meu íntimo
Atormentado por tudo que não vivi com você, estou à mercê da solidão
Mas sei que a solidão é preferível à ilusão que sua companhia trazia
Eu me perdi em seu abismo e a queda foi abrupta demais
Suas palavras e seus gestos são refeitos a cada instante para atenuar a dor
Poderia chamar de vida o que vivo? Isso também não tem importância
Eu só queria sentir uma vez mais o sopro dos seus lábios sobre a minha face
Dizendo que tudo era eterno e que o amor não tinha explicação
E que nem um golpe súbito arrancaria a certeza em nosso sangue
Entretanto, fomos só um esboço do que queríamos ser
Perfeitos para morrer pelos sonhos e desejos que tecíamos para nós
Tantas chances para vencermos, tantas chances para perdermos
Você, sem me fitar, escolheu a segunda opção e quebrou todas as promessas
Agora minha alma envelheceu cem décadas, embebida de lágrimas negras
E você virou anjo sem misericórdia, as asas delicadas a ponto de ruir
Talvez eu já esteja morto há tempos, não sei ao certo o que pensar
Mas sei que a única coisa que me mantém aqui é o seu toque frio
Ferindo e salvando o meu corpo, enquanto torno-me plenamente vazio

(08/05/13)



imagem: psicopatas anônimos

Procura-se um novo emprego

domingo, 5 de maio de 2013


A dr. Hannah, ou Professora, como as pessoas a chamavam, reuniu-se com seus oito pacientes. Trazia nas mãos canetas e papéis, e sentou-se em frente a eles, dando um bom-dia. Depois, solene, anunciou:

- Pessoal, agora já faz três meses que começamos a terapia. Pelo que eu pude ver, houve muitos progressos. O sr. Mel, por exemplo, parou de recitar noite e dia o código penal e a sra. Lola não envenena mais nossos pratos. Isso é muito bom, gente! Bem, nesse clima de vitória, vou propôr uma atividade em equipe. Quero me façam uma história, em dupla, sobre qualquer assunto. O prêmio será surpresa, mas garanto que valerá a pena. Vocês têm até o fim da sessão para terminar. Vou deixá-los sozinhos para pensarem.

Todos sorriram com a proposta. Qualquer coisa que ajudasse com a recuperação era sempre bem-vinda, assim eles poderiam ir embora logo. Os oito pacientes começaram a formar duplas, de acordo com o grau de afinidade na profissão. O advogado sentou-se com o ladrão, o monge com a bruxa, o palhaço com o pirata e o caipira com o índio. Embora não parecesse, as duas últimas também eram profissões: o caipira fingia-se de cego para mendigar e o índio animava parques. Quando pegaram suas folhas de papel, um burburinho de sussurros instalou-se.

- Certo. Sobre o que vamos escrever? - o ladrão perguntou ao advogado.

- Olha, eu tenho uma ideia. Podemos falar sobre um advogado que à noite é justiceiro e salva o mundo. 

- Péssima ideia. Vamos falar sobre uma quadrilha de ladrões no velho oeste.

- Não mesmo. Acho melhor não colocar nossos empregos no meio. Se bem que ser ladrão nem é emprego.

- Claro que é! É como ser político, só que mais honesto. 

- As pessoas não concordam com isso.

- Advogado que é o próprio diabo.

- Nem vem. Eu sempre livro a cara de tipos como você.

A discussão continuou, cada um dizendo no que era melhor que o outro. Do lado deles, o monge e a bruxa fizeram cara feia, mas ainda escreviam calmamente o seu texto, em perfeita harmonia. O palhaço e o pirata, na mesa do fundo, também brigavam: o palhaço queria uma história de humor, enquanto o pirata pensava numa de aventura. Os dois não percebiam que podiam muito bem usar as duas ideias, e estavam a ponto de trocarem socos. O caipira levantou-se para apartar a briga, porém saiu de perto quando o mandaram não importunar.

- Eu só queria ajudar, sô - disse ao índio.

O índio, despreocupado, colocou os pés na mesa.

- Ah, cara, fica quieto. É a primeira vez desde que vim para cá que a velha não nos enche com aquele papo zen. Eu sei que ela quer ajudar em nossa depressão pós-desemprego, mas cansa. Agora podemos ter um minutinho de lazer.

- Que lazer? Estão todos brigando.

- A bruxa e o monge não, acho até que já terminaram a atividade. 

- Não devíamos estar escrevendo também?

- Inventa algo, então. 

Na mesa do advogado o ladrão chorava:

- Ah, meu Deus, eu quero voltar pro meu trabalho! Preciso roubar alguma coisa! Sinto tanta falta disso...

- E eu quero voltar a alegrar as pessoas! O que a galinha foi fazer do outro lado da rua, hein, hein, hein?

- E eu? Vocês já pensaram em como é ruim não contar algumas inverdades no tribunal?

- Calem a boca, preciso de silêncio, silêncio!!

Mas não adiantava. O pânico tomou a sala. O advogado voltou a recitar o código penal e o ladrão começou a despregar os quadros da parede. O palhaço contava piadas, sem fôlego, enquanto seu parceiro pilhava as cadeiras e cantava canções de piratas. Até a bruxa deixara o conto de lado e retirava poções dos bolsos. O monge, meditando, estava alheio a tudo. Ele esquecera de como isso era bom.

Os únicos que conservavam-se do mesmo modo eram o índio e o caipira. Este, embora tivesse saudades das enganações que fazia, já estava quase bem; a Professora lhe dissera que sairia dali na próxima semana. O índio era descrente, e não ligava para nada, fora internado contra a sua vontade. Se as pessoas enlouqueceram novamente, pouco se lhe dava.

No fim da sessão, a Professora voltou e encontrou o caos.

- Oh... O que aconteceu aqui?

- Professora, queremos voltar ao trabalho! Por favor, por favor! 

- Vocês não podem! Estávamos indo tão bem! Vocês já estavam curando-se, vendo que a profissão que tinham não lhes fazia bem, e iam voltar para as ruas como cidadães sãos! Vejam como estão agora! Sr. Martinez, arrume as cadeiras! Sr. Julio, deixe os quadros em paz e...

- Ahhhhh!! Escutem minha piada, é muito engraçada: por que a galinha atravessou a rua? hahahaha. Digam, digam!

Na desordem, a maioria dos pacientes atravessou a porta e foi para o corredor, reclamando e gritando. A Professora ficou paralisada, embasbacada. No chão o monge repetia um mantra.

O caipira, hesitante, chamou a atenção da mulher:

- Professora, será que dá pra entregar a história depois?

(03-05-13)

Meme das sete coisas

quinta-feira, 2 de maio de 2013


Essa brincadeira foi proposta a mim por Lu Rosário. Achei muito interessante pois me fez pensar nas minhas próprias características e no que eu penso sobre as coisas que estão em mim e ao meu redor.
Espero que gostem!


I - Sete coisas antes de morrer:
1. Faculdade (do que não sei ainda)
2. Escrever um livro
3. Conhecer alguns escritores que admiro
4. Cumprir minhas 10 metas futuras, que inclui ver o mar, andar numa montanha-russa etc.
5. Ler todos os livros da minha lista de leituras
6. Me apaixonar
7. Fazer algo radical

II - Sete coisas que mais digo:
1. Oi
2. Ok
3. É
4. Então
5. Tá bom
6. Tipo
7. Hum

III. Sete coisas que faço bem:
1. Escrever
2. Arroz (a única coisa que sei cozinhar)
3. Rir
4. Desenhar (é mais uma coisa que gosto de fazer do que fazer bem)
5. Ler
6. Imaginar, sou muito criativa
7. Gostar do Jefferson, meu amigo (esse 7 é em homenagem a ele)

IV. Sete coisas que não faço:
1. Cozinhar
2. Fofoca
3. Ser desleal
4. Atividades físicas, embora devesse fazer
5. Mentir, porque sou uma péssima mentirosa
6. Deixar de conversar com as pessoas que gosto
7. Ir à festas

V. Sete coisas que me encantam:
1. Pessoas
2. Livros
3. Música
4. Inteligência
5. Bom-humor
6. Romantismo (sem excesso, claro)
7. Comida

VI. Sete coisas que eu não gosto:
1. Pessoas
2. Falsidade
3. Preconceito
4. Mentes limitadas
5. Crueldade
6. Críticas destrutivas
7. Não ter a liberdade de ser o que quer

VII. Sete pessoas para dar prosseguimento com outras respostas para o meme:
1. Anderson Oliveira
2. Isie Fernandes
3. Jefferson Luiz Maleski
4. Lucélia Muniz França
5. Juliana Lima Oliveira
6. Herculano Neto
7. Ideias ao vento

(Elaine Rocha)






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