Budapeste, de Chico Buarque

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013



Trechos selecionados do livro Budapeste, de Chico Buarque.
 
Por um segundo imaginei que ela não fosse uma mulher para se tocar aqui ou ali, mas que me desafiasse a tocar de uma só vez a pele inteira. Até receei que naquele segundo ela dissesse: me possui, me faz amor, me come, me fode, me estraçalha, como será que as húngaras dizem essas coisas? Mas ela ficou quieta, o olhar perdido, não sei se comovida pelo meu olhar passeando no seu corpo, ou pelo falar pausado no idioma dela [...]. E eu também me comovia, sabendo que em breve conheceria suas intimidades e, com igual ou maior volúpia, o nome delas.
(pág. 46) 

Duas pessoas não se equilibram muito tempo lado a lado, cada qual com seu silêncio; um dos silêncios acaba sugando o outro.
(pág. 61) 

Houve um tempo em que, se tivesse de optar entre duas cegueiras, escolheria ser cego ao esplendor do mar, às montanhas, ao pôr-do-sol do Rio de Janeiro, para ter olhos de ler o que há de belo, em letras negras sobre fundo branco.
(pág. 96) 

De tanto me devotar ao meu ofício, escrevendo e reescrevendo, corrigindo e depurando textos, mimando cada palavra que punha no papel, não me sobravam boas palavras para ela.
(pág. 106) 

Tive a sensação de haver desembarcado em um país de língua desconhecida, o que para mim era sempre uma sensação boa, era como se a vida fosse partir do zero.
(pág. 155) 

Minha cabeça já alçava vôo, meus pensamentos vinham em verso.
(pág. 165)



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