Trechos selecionados do livro Budapeste, de Chico Buarque.
Por
um segundo imaginei que ela não fosse uma mulher para se tocar aqui ou ali, mas
que me desafiasse a tocar de uma só vez a pele inteira. Até receei que naquele
segundo ela dissesse: me possui, me faz amor, me come, me fode, me estraçalha,
como será que as húngaras dizem essas coisas? Mas ela ficou quieta, o olhar
perdido, não sei se comovida pelo meu olhar passeando no seu corpo, ou pelo
falar pausado no idioma dela [...]. E eu também me comovia, sabendo que em
breve conheceria suas intimidades e, com igual ou maior volúpia, o nome delas.
(pág. 46)
Duas
pessoas não se equilibram muito tempo lado a lado, cada qual com seu silêncio;
um dos silêncios acaba sugando o outro.
(pág. 61)
Houve
um tempo em que, se tivesse de optar entre duas cegueiras, escolheria ser cego
ao esplendor do mar, às montanhas, ao pôr-do-sol do Rio de Janeiro, para ter
olhos de ler o que há de belo, em letras negras sobre fundo branco.
(pág. 96)
De
tanto me devotar ao meu ofício, escrevendo e reescrevendo, corrigindo e
depurando textos, mimando cada palavra que punha no papel, não me sobravam boas
palavras para ela.
(pág. 106)
Tive
a sensação de haver desembarcado em um país de língua desconhecida, o que para
mim era sempre uma sensação boa, era como se a vida fosse partir do zero.
(pág. 155)
Minha
cabeça já alçava vôo, meus pensamentos vinham em verso.
(pág. 165)
Já ouvi falar muito nesse livro...taí! Preciso lê-lo!
ResponderExcluir