Trechos selecionados do livro O cavaleiro Inexistente, de Italo Calvino. Talvez não se possa chamá-lo de doido: é só alguém que existe mas não tem consciência disso. (pág. 26) Combater ao lado de um companheiro é muito mais bonito do que lutar sozinho: ganha-se em coragem e conforto, e o sentimento de ter um inimigo e o de ter um amigo se fundem num mesmo calor. (pág. 39) Aquilo que minhas orelhas ouviam meus olhos entreabertos transformavam em visões e meus lábios silenciosos em palavras e palavras e a pena se lançava pela folha branca, correndo atrás delas. (pág. 44) A arte de escrever histórias consiste em saber extrair daquele nada que se estendeu da vida de todo resto; mas, concluída a página, retoma-se a vida, e nos damos conta de que aquilo que sabíamos é realmente nada. (pág. 53) A guerra vai durar até o final dos séculos e ninguém vencerá ou perderá, ficaremos imóveis diante dos outros para sempre. E sem uns os outros não seriam nada e hoje tanto nós quanto eles já esquecemos por que combatemos... Ouve estas rãs? Tudo aquilo que fazemos tem tanto sentido e tanta ordem quanto seu coaxar, aquele saltar da água para a margem e da margem para a água... (pág. 59) Começa-se a escrever com gana, porém há um momento em que a pena não risca nada além de tinta poeirenta, e não escorre nem uma gota de vida, e a vida está fora, além da janela, fora de você, e lhe parece que nunca mais poderá refugiar-se na página que escreve, abrir um outro mundo, dar um salto. (pág. 61) Num certo ponto a paixão por ela é também paixão por si próprio, é apaixonar-se por aquilo que poderiam ser os dois juntos e não são. (pág. 72) Toda a natureza é amor... (pág. 85)
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