Do lamento à cura

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Dramatis Personae


CAECUS: Ex-general romano

ATELLA: Mulher de Caecus

CAMILLUS: Filho de Caecus

FEITICEIRA

CRASSUS: Conselheiro

Alguns criados



CENA: A ação se passa em Roma.



ATO I



CENA I



Roma. Jardins da casa de Caecus.

(Entram Caecus e Camillus, este guia seu pai.)



CAECUS:

                Meu filho, ajude teu velho pai. Ilustra-me este nascer do dia.

CAMILLUS:

                    Hoje o sol está magnífico, meu nobre pai. O dourado leitoso arde os olhos. Sentes na face o brilho?

CAECUS:

               Sim...

              Ah! Como o destino é torpe! Maldigo minha sorte! Queria ver novamente as cores, daria por isto qualquer coisa.

CAMILLUS:

                   Não se aflija, meu pai.



(Entra Atella.)



ATELLA:

              Camillus, vais tomar o desjejum. Deixe-me conversar com teu pai.



(Camillus sai.)



ATELLA (segurando a mão do marido):

                                                                    Meu nobre esposo, em breve nosso filho completará anos.  Almejo fazer uma comemoração. Tenho a tua permissão?

CAECUS:

               Claro! Ele merece, De mim sempre se compadece. Ajuda-me e guia-me desde que perdi a vista.

ATELLA:

              Bom! Organizarei tudo. Será um banquete inesquecível!



(Entra um criado.)



CRIADO:

              Perdoe a intromissão, nobre senhor.  A feiticeira chegou e espera na sala de reunião.

CAECUS:

               Diga que já vou.



(O criado sai.)



ATELLA:

             Meu marido, que feiticeira? Não desististe desta ideia?

CAECUS:

               Escuta-me Atella, esta é diferente. Dizem que já curou o próprio Augusto!

ATELLA:

              Enlouqueceste! Até onde tua obsessão te levará? Ninguém poderá devolver-lhe a visão. Há quanto tempo procuras? Chamaste curandeiros e bruxas, de todo lugar do mundo. E o que eles revelaram? Nada, absolutamente nada!

CAECUS:

               Chega! Por que me atormentas? Ainda não perdi a fé! Serei curado, e tu verás, mulher!



(Sai.)



ATELLA (à parte):

                               Se continuar assim, perderá a razão. Que os deuses nos protejam!



(Sai.)





CENA II



  Salão de reunião.

(Entram Caecus, Crassus, a Feiticeira e alguns criados.)



CRASSUS:

                 Aqui está ela, nobre senhor. Trouxemo-la do porto. Ela já ia partir.

CAECUS:

               Então, é verdade? Restabeleceste o Imperador?

FEITICEIRA:

                    Sim, nobre romano. Retirei-lhe uma doença que o afligia.

CAECUS:

               Achas que me curarás?

FEITICEIRA:

                    Certamente.

CAECUS:

               Se curar-me, dar-lhe-ei muito ouro.

FEITICEIRA:

                    Não quero teu ouro. Só conte-me: como perdeste a visão?

CAECUS:

               Ah! Gentil senhora! Foi há quatro anos. Eu era um general, defendia o nobre Antônio e a honra do finado César. Nas planícies de Philippi, matei vários inimigos. E quando, vitorioso, afastava-me a cavalo deste descampado, um traiçoeiro cavaleiro acertou-me uma flecha. Tombei no chão, e bati numa pedra. Eu não morri, mas a visão perdi.

FEITICEIRA:

                    Cruel destino! Permita-me então, farei seus olhos enxergarem.

CAECUS:

               É só o que lhe peço, senhora.

FEITICEIRA:

                    Porém aviso... Em tudo há consequências. Ao voltares a ver, talvez outra coisa venhas a sofrer.

CAECUS:

               Oh! Não me importo! Minha visão, é só o que desejo! Anos na escuridão... Não suporto mais! Quero rever minha família, tornar a ser um general destemido. Sim, sim, não me importo. Faça-me enxergar!



(A feiticeira aproxima-se e põe as mãos nos olhos de Caecus. Murmura algumas palavras.)



FEITICEIRA:

                    Pronto!

CAECUS (em êxtase):

                                     Esta claridade me queima... Oh! Eu vejo, vejo! Crassus... Estás aí! Não mudaste em nada! As cadeiras, a mesa... Eu vejo! Abençoada seja, senhora. Conseguiste!



(Entra Atella, com Camillus.)



ATELLA:

                Meu marido, aconteceu uma tragédia! De uma hora para outra, nosso filho ficou cego!

CAECUS (abraçando o filho):

                                                 Ah, meu filho, pegaste minha maldição? Perdoa-me... Perdoa-me! Não queria... Perdoa-me!

CAMILLUS:

                   Meu pai...

ATELLA:

             Tu enxergas? Que fizeste? Cegaste Camillus! Eu disse-lhe para parar, deixar em paz teu infortúnio! Vês agora? Por causa disto teu filho está cego!

CAECUS (ajoelha-se):

                                     Perdoem-me, perdoem-me...

                                     (à feiticeira):

                                     Maldita! O que ocorreu...

FEITICEIRA:

                    A tua própria obsessão levou a isto. Não me culpe por tuas escolhas. Obtiveste o que sempre desejaste! Tens de volta tua visão. Mas avisei que haveria alguma consequência. A partir de agora, será cega toda a tua descendência.



(Saem.)


Elaine Rocha



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